Acerca de
space interface experience
por Ricardo Figueira (Fundador e CCO da Figtree)
A corrida espacial está novamente a todo vapor desde que a NASA resolveu criar parcerias com o setor privado para ir além.
A contribuição do design na operacionalização e viabilização das missões espaciais na nossa visão são considerados importantes benchmarks de user experience porque além de terem que realizar operações extremamente complexas, são instrumentos que precisam ser operados em todas as condições de pressão física e psicológica. Para se ter uma idéia, numa decolagem astronautas são geralmente submetidos a uma força média de 4,5G, enquanto a chamada “reentrada balística” na atmosfera pode ocorrer numa força de 8G, ou seja 8 vezes a força gravitacional. Imagina passar por tudo isso, pensando em tudo que é preciso para manter a nave sob controle, lembrando que a sua família está esperando você para tomar café da manhã em casa?
Ao compararmos esses três cockpits icônicos das naves Apollo 4, lançada em 1967, a Space Shuttle em 2002 e a Crew Dragon da Space X, lançada em 2020 vemos uma nítida transformação, apesar das três naves terem sido criadas para o mesmo propósito.
A progressiva desmaterialização de botões e joysticks ao longo do tempo fazem parte da humanização da interface. Isso não significa menos tecnologia, significa tecnologia mais inteligente, mais avançada, significa uma transformação cognitiva. E isso acontece com tudo. Lembra do celular Blackberry? Mais da metade do aparelho era ocupado com um teclado que parecia aquelas bolhinhas de plástico que estouram. É claro que na época essa imagem representava uma evolução. Ver um teclado com caracteres num aparelho que só funcionava com teclas de números foi uma revolução. Lembra dos controles remotos caóticos das TVs a cabo? Esses só agregavam medo mesmo.
Interfaces cada vez mais transparentes, menos aparentes significam contextos automatizados, desenhados preditivamente. Com isso decisões humanas se tornam mais focadas no que é fim e não no que é meio. Esse é o norte do futuro.
Assim em vez de você ter botões de ligar para cada parte do motor de uma nave e por consequência executar uma decolagem, você terá um único ícone de decolar e que ao ser pressionado executará inúmeras atividades que viabilizam a decolagem, como se fosse um ícone no seu celular. E o melhor, se a nave está decolando, o ícone de aterrisar nem existe no seu painel, dando à tela apenas as funções que são protagonistas daquele momento. Assim, a gente percebe que o conceito JUST IN TIME em vez de JUST IN CASE (old technology) passa a ser um processo evolutivo de gestão preditiva de uma interface. Em outras palavras, em vez de você exibir todos os botões de todas as funções, você só exibe aquilo que é pertinente no momento.
Não é atoa que o cockpit da Crew Dragon só possui três telas para controle de tudo. E pode ter certeza que essa nave tem 100 vezes mais controles do que a Shuttle de 2002, mas eles só aparecem na tela se preciso for.
Esse mesmo conceito de JUST IN TIME em vez de JUST IN CASE é a alma da interface, principalmente por voz ou diálogo, onde a interface gráfica é 100% transparente e o nível de contexto não tem linearidade necessariamente. JUST IN TIME desmaterializa completamente a construção de tudo baseado em agrupamento de similaridades e árvores de decisão. Porque ela segue uma lógica não baseada em exibição de estímulo, mas prediz possibilidades e intenções.
Muito em breve, comandar uma decolagem vai ser tão fácil como dizer “Vamos nessa”, ou adentrar na atmosfera vai bastar dizer “pra casa”, e se estiver mais rápido do que deveria, bastará dizer, “estou receoso, mais cuidado nisso aí hein”
Aos poucos a gente sente o futuro tomando conta do presente. Por exemplo, hoje muito se fala em impressão 3d, apesar de se explorar pouco o conceito do JUST IN TIME. Você poder construir coisas físicas só no momento e no lugar em que elas forem necessárias evitando transporte, logística ou ocupação de espaço desnecessário. O impacto é algo realmente gigantesco.
Do mesmo jeito, em 2020 nasceu a tecnologia GPT 3, uma capacidade exponencial da Inteligência Artificial criar música, imagem, narrativas e até software sob o comando de diálogo como por exemplo: - Criar um app que transforme informação x em y e exiba apenas as que fazem sentido entre si. Ou seja, até o uso da lógica computacional para atender necessidades se tornou JUST IN TIME.
Daqui a pouco já estou até vendo. A máxima será ir pro espaço com uma impressora 3d, uma Inteligencia artificial baseada em gpt-3 e uma pastilha Valda pra não perder a voz. Afinal, o que não pode faltar é comando de voz pra criar um novo mundo do jeito que a pessoa quiser imaginar.