Artigo Publicado na revista impressa Propaganda & Marketing no dia 08 de junho de 2020

Imagine um peixe. A vida inteira indo pra lá e pra cá no seu habitat natural. E tão natural, que ele talvez nem faça idéia que vive na água. Provavelmente nem sabe que a água existe e muito menos que existe um mundo fora d’água.
Até que um dia, quando menos se espera, o peixe se vê fora da água, ou melhor se sente fora d’água.
Ele se debate de um lado pro outro. Grita. Mas sem emitir um único som. E, mesmo sem som, a gente lê na boca que abre e fecha e no olhar arregalado: Eu quero voltar! Eu quero voltar! Eu quero voltar!
Para de se debater. Isso só vai tirar a energia que resta.
Você não é peixe!
Mesmo já tendo vivido dentro d’água na barriga da sua mãe. A sua capacidade de adaptação é tão grande que até o seu coração passou a funcionar ao contrário na hora que você saiu daquela água e respirou ar pela primeira vez. Aliás, Isso sim, é tecnologia. O coração. A única “máquina” capaz de perdoar e amar as imperfeições.
Mas não é o coração, o que quase sai pela boca quando a gente se sente peixe fora dágua? Não. É o nosso condicionamento que fica tentando empurrar a gente pro lugar que as pessoas estão adorando chamar de velho normal. Esse lugar não existe mais. Mas o que ninguém contou é que o novo normal é um lugar que também não existe. Essa é a pegadinha: a história de “normal” é a “água” que você achava que não podia viver fora.
Só que o ser-humano já nasceu se adaptando. É isso que sabemos fazer. E se, antigamente, a sua vulnerabilidade ficava escondida, trancada no armário, protegida a sete chaves, agora ela é o café da manhã, o almoço e a jantar. A vulnerabilidade é o principal ingrediente da criatividade para se viver dentro ou fora d´água.
Quem acompanha de perto essa realidade, vive pelo menos uma transformação todo dia e sabe que o que estamos vivendo é uma disrupção. Isso tudo demanda uma transformação intelectual, social, comportamental, empresarial, e nos atinge de forma surpreendente. Porque surpreendente não é a evolução do consistente ou do coerente. É o rompimento dessa premissa. Por outro lado, o momento não é de revolução, é de renascença, de revisitar valores, de criar novos, de fazer as pazes com a vulnerabilidade e buscar a nova possibilidade.
A moda por exemplo, de um dia pro outro já mudou de frívolo e descartável para significativo, à prova do tempo. Carros que tinham se tornado propriedades desnecessárias viraram salas de reunião sobre rodas, sem o barulho das crianças. Artistas estão se tornando donos dos seus próprios canais de mídia. Bons vendedores estão negociando pessoalmente nas esquinas virtuais de todo o Brasil. E, até o que a gente conhecia como economia, agora só tem sentido se gerar prosperidade compartilhada.
E como fica aquela velha história de transformação digital que tanta gente leva 10, 15, 20 anos pra fazer? Como fica? Bem, qualquer transformação não dá mais pra ser um processo de anos, ela precisa ser um mergulho, rápido e sustentável, ou melhor falando um MVP irresistível pra ser testado no mercado. Algumas pessoas chamam MVP de mínimum viable product, eu costumo chamar MVP de Mínima Vontade Própria ou accountability no bom inglês.
O fato é que os próximos 18 meses vão passar voando. Se você ficar se debatendo como peixe fora d’água, esperando o que vai acontecer, vai perder a oportunidade de ter vivido em paz com você mesmo e com a sua família enquanto trabalha. E vai ter perdido a oportunidade de entender os novos hábitos, de criar novos mercados, de construir novas parcerias e de ter, no mínimo, revirado a vulnerabilidade da sua empresa, dos seus produtos, serviços e até do seu propósito.
Não é a toa que para lidar com a situação hoje os departamentos de vendas, marketing, R&D e respon-sabilidade social se tornaram uma coisa só. E quando isso não é suficiente, por que não juntar forças, de alguma forma, com alguém que não está se debatendo, mesmo que seja seu concorrente?
Enfim, eu peço desculpas se o título dessa conversa sugeriu a você que íamos falar sobre a era de aquário. De certa forma, até se trata de aquários, mas o importante é que a gente pare de se debater como peixes fora d´água. A gente não é peixe.
Ricardo Figueira
Sócio Fundador / Chief Creative Office
Figtree & Co.
ric@figtree.company
Artigo publicado na sessão Inspiração da Revista Propmark, edição de 08 de junho de 2020.
Venha conversar conosco. A Figtree está aqui pra ajudar você e sua empresa a se adaptar, criando novas possibilidades para o seu negócio e para a sua marca.
Comments